Wednesday, January 17, 2007

Passado...




Quis crescer mais depressa por tua causa. E passados uns anos fiquei finalmente crescida o suficiente. O suficiente para sofrer por ti.


Quando te conheci era ainda uma criança. Não sabia nada. Sabia apenas que queria ser grande para que desejasses mais do que tudo na vida que eu fosse tua.

Cresci a pensar que um dia ia ser a mulher mais feliz do mundo. Como é que Deus pôde ser tão cruel de me ter deixado pensar assim por tantos anos? E os anjos? Onde é que andavam os anjos que deveriam guardar a minha felicidade e a minha esperança dos tempos de menina? Para que servem os anjos da guarda se não para guardar o que temos de maior valor?


Sempre me achei muito pequenina ao pé da tua grandiosidade, que ficaria esmagada na tua presença. Descobri entretanto que o teu tamanho era inversamente proporcional ao teu lado psicológico e adulto. Adorava deitar-te ao meu colo e embalar-te para fazer passar os males, como se faz aos bébés.
As noites e os dias contigo enchiam a minha vida e eu caminhava sobre nuvens de cada vez que pensava que eras meu. Não tinha calma nem cabeça para conter mais nada, pois o meu coração saía em almofadas de cetim pedacinho a pedacinho direitos a ti.


Voltas e voltas que dê, eu sei, não vou sentir assim nunca mais.


O meu maior sonho era voar contigo para o fim do mundo e deixar tudo para trás ao acaso. Ser o sol dos teus dias e as estrelas da tua noite. Viver para ti.


A expectativa de uma noite em segredo, a ânsea de ver o teu carro virar a esquina enchiam-me de uma luz muito brilhante que eu só queria que ninguém notasse. E que me carregou do peso que os anos de muita angústia transferem para as almas que não podem revelar o tão grande amor que sentem.


O que me deixaste de pois de tudo foi o conhecimento perfeito e cruel de que se pode ganhar o mundo e perdê-lo logo a seguir num trocar de olhos. Que podia viver cheia de mim e no instante seguinte sobreviver vazia, com ecos a bater de uma parede do estômago para outra.


Tantas vezes desejei morrer, tantas vezes quis nascer de novo, nunca por ti, sempre para ti.


As horas de fogo entre panos de lençol ensinaram o meu corpo a redimir-se de todos os pecados para trás, a minha consciência perdia-se entre um beijo e outro. Não podia sentir-me culpada por sentir um tão grande amor.
Os remorsos não são compatíveis com os arremeços da paixão. Só depois dela baixar a frio no coração é que o sistema perceptivo de culpas começa a funcionar de novo.


Agora sou finalmente crescida e é terrível porque não posso voltar atrás. Perdi irremediavelmente o tempo das alegrias simples e dos desvairos próprios das idades que eu não conheço. Vejo o mundo com os olhos claros e transparentes das cicatrizes.


Agora parte-se-me o coração e estremeço de cada vez que penso que era capaz de morrer de amor por ti.



Isto foi escrito há exactamente 10 anos atrás…O que tem a ver com o presente?! Tudo..ou talvez parte de..mas em sentido inverso. Confuso?!...Nã….

4 Comments:

At 4:18 PM, Blogger aqui-há-gato said...

Morrer por alguém?!
Não...
Jamais...
Nunca!


Ainda bem q já não pensas assim! Espero...:))

Miau do gato

 
At 5:04 PM, Blogger Bonboca said...

Amigo Gato

Claro que não penso..Livra!!

Beijosjavascript:void(0)
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At 11:36 PM, Anonymous Anonymous said...

Fico contente por ter sido escrito há 10 anos:
1 - Porque é uma situação de vida que ultrapassaste (?) e da qual agora podes olhar para trás e ponderar,que morrer por alguém, só por nós próprios...
2 - Porque é um texto que fica a dever a tudo que tens deixado por aqui escrito...é algo com pouco estilo, uma linha demasiado escorreita, com adjectivação vazia(estão por estar:não tem conteúdo,não traduzem emoções) e sem mais recursos...algo muito à Paulo Coelho, infelizmente...

Mudas-tí e inda bien :)

 
At 11:24 PM, Blogger Miguel Fonseca said...

Fenomenal! Adorei cada letra, cada palavra, cada frase... a intensidade, o sentimento... tudo!

Simplesmente lindo.

Beijos soltos

 

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